terça-feira, 15 de novembro de 2011

A água é uma barreira para alimentar o mundo, diz novo diretor da FAO


 OCTUBRE 2011


O próximo diretor do Organismo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o brasileiro José Graziano da Silva (agrônomo, formado em economia rural e sociologia, professor e escritor, foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate a Fome, enquanto a pasta existiu, entre 2003 e 2004), declarou em entrevista à BBC que “a água foi convertida no principal obstáculo para aumentar a produção, especialmente em áreas como a região dos Andes, América do Sul, e os países ao sul do Saara”.

De acordo com estudos da FAO, em 2050 a produção de alimentos deverá ser 70% maior para acompanhar o ritmo de crescimento da população. Graziano afirma que, apesar da pressão sobre os recursos naturais imposto pelo crescente número de seres humanos sobre a Terra, é possível acabar com a fome com quatro ações principais. Aplicação de técnicas modernas de agricultura (muitas já disponíveis), criar uma rede de segurança social para as populações mais vulneráveis, recuperar para a agricultura os produtos locais e mudar os padrões de consumo dos países ricos.

“Se pudéssemos mudar os padrões de consumo dos países desenvolvidos, haveria comida para todos”, comenta Graziano. “Desperdiçamos muita comida, atualmente, não só na produção, como no transporte e no consumo”. Segundo ele, enquanto nos países ricos se desperdiça comida, um bilhão de pessoas passam fome. “Precisamos garantir que essas populações se alimentem, facilitar-lhes trabalhos bem pagos ou encontrar uma fórmula de proteção social”.

O brasileiro disse que os programas de transferência de dinheiro servem a cerca de 120 milhões de pessoas na América Latina, o que ajudou a reduzir as taxas de desnutrição na região. Ele defende a expansão desses programas a outros países com o mesmo problema, especialmente na África.

Mercados locais

Outra ação que poderia ajudar na luta contra a fome, argumenta o futuro diretor da FAO – que assume em 1º de janeiro de 2012 –, é recuperar a agricultura de produtos típicos de cada região. Ele acrescenta que, por esses produtos não serem matérias primas (ou “comodities”), não são afetados por mudanças repentinas de preços, beneficiando assim consumidores e produtores. Pode-se criar um ciclo de produção e consumo local.
“O que faz a comida cara é o transporte, porque a produção é muito barata. Se pudéssemos diversificá-la e tornar regionais os canais de distribuição, os preços seriam muito menores”.  Graziano também afirma que estimular os produtos tradicionais ajudaria a diversificar as fontes de alimentos.
“Atualmente há poucos produtos responsáveis pela alimentação de sete bilhões de pessoas”. Conforme comentou na entrevista, a prioridade dada aos alimentos presentes nos mercados internacionais, por exemplo, reduzem a capacidade da América Latina na produção de feijão, uma fonte tradicional com alto valor nutritivo e baixo custo.

O problema da obesidade

 

A diversidade da produção agrícola também serviria para enfrentar outros problemas com relação aos alimentos – por exemplo, o aumento da obesidade, inclusive em países pobres. Graziano assegura que o número de pessoas com dieta inadequada ou com obesidade já está em dois bilhões, o dobro dos que passam fome. E atribui o fato ao estilo de vida moderna, que desestimula a atividade física e facilita o acesso à comida industrializada, normalmente com altas concentrações de açúcar. Por isso, o brasileiro acredita que a luta contra a obesidade deveria incluir campanhas educativas “que foram esquecidas”. Ele acrescenta, “acreditamos que nossas mães sabiam o que se devia comer. Nossas avós tiravam o alimento da horta, mas as mães de hoje querem comida rápida, porque passam muito tempo trabalhando fora de casa”.
Graziano argumenta que as multinacionais de comida rápica deveriam estar conscientes de sua responsabilidade neste quadro e aumentar a presença de alimentos crus em seus cardápios, como frutas e verduras.
Biocombustíveis

José Graziano, atual diretor regional da FAO para a América Latina e Caribe, destaca outros dois problemas que, junto à obesidade, são parte da recente discussão sobre a produção de alimentos ao redor do mundo – a suposta competição entre agricultura para a alimentação e a produção de biocombustíveis; e os riscos que a agricultura impõe à preservação do meio ambiente. Ele destaca que duas das três áreas que mais produzem biocombustíveis, Estados Unidos e Europa, verificaram aumentos nos preços de alguns alimentos por terem que competir com os plantios para a fabricação desses combustíveis. Na terceira área de grande produção, o Brasil, os estados que produzem etanol a partir da cana-de-açúcar não observam impacto nos preços dos alimentos, pois os plantios estão sendo feitos em terras que não eram produtivas e passaram a ser, graças à modernização das técnicas (e ao desmatamento extensivo e destruidor das florestas nativas – n do T. No entanto...) Graziano acrescenta que não há conflito entre a preservação ambiental e a necessidade de expandir a produção agrícola. “Assim como há colesterol bom e mau, isso acontece com os biocombustíveis” , diz ele. “A intensificação da produção através de tecnologias modernas, reduzindo o uso de fertilizantes e pesticidas, podem beneficiar enormemente o meio ambiente. Os avanços tecnológicos nessa direção deveriam acabar com esta dicotomia entre os ambientalistas e os agricultores”.

(N do T – Ele não diz como as mega-transnacionais dos transgênicos, dos fertilizantes e pesticidas mais mortais se colocam diante desse quadro.  Nem aborda a estratégia, claramente executada por essas monstruosidades empresariais -  como em várias áreas, como energia, transportes, medicinas, educação, comunicações, mineração, etc, etc. -, de concentração de poderes no setor de alimentos, na intenção também clara de controlar a alimentação no maior espaço possível do planeta, eliminando a autonomia da produção dos pequenos agricultores, e assim controlar também, sob chantagem, os governos fantoches das falsas democracias controladas nos bastidores pelos poderes econômicos. Na fala do futuro diretor da organização para a alimentação mundial, não há referência ao controle exercido pelas transnacionais sobre os governos, a partir do próprio império planetário atual, os Estados Unidos, incidindo diretamente sobre as políticas públicas, como ficou claríssimo no Brasil, com o processo criminoso de legalização dos transgênicos, cujas empresas produtoras fizeram distribuição ilegal e gratuita para os plantadores sulistas de soja - com promessas de lucros altíssimos -, que se encarregaram de pressionar o governo para a liberação, diante da iminência da safra proibida. O governo federal, ao invés de declarar o crime contra a soberania nacional, processar e multar os fazendeiros cúmplices do crime, apreender e destruir a safra geneticamente modificada, além de expulsar a empresa do país, bundou diante das pressões e se submeteu à maquinação multinacional, legalizando vergonhosamente as sementes transgênicas.


Sem esclarecer as causas de tanto deseqüilíbrio social no planeta, o predomínio das finanças, de bancos e empresas gigantescas sobre os poderes políticos e sociais, fica difícil enxergar o quadro todo e, por conseqüência, modificá-lo. Não percebemos o quanto fomos condicionados pelo trabalho midiático - usando a psicologia do inconsciente - nos nossos valores, comportamentos, desejos e objetivos de vida. Não percebemos que a sustentação desse sistema perverso tem base nisso. Exercemos a vida conforme esses condicionamentos, nos comportando como planejado e imposto pela propaganda explícita e subliminar, que cria falsos valores e objetivos insatisfatórios de vida, levando-nos ao conflito permanente, à insatisfação constante e às angústias de uma vida sem sentido real).  

(Tomado de BBC Mundo)                                                                                                  Boletim CubaDebate 27.10.2011
Tradução – Eduardo Marinho

2 comentários:

  1. Mais uma farsa. Mais um que não aponta a fonte de todos estes males. Só evidencia o superficial. Enquanto for assim não vai alimentar mundo algum.

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  2. Um intelectual é um homem que diz uma coisa simples de uma maneira difícil; um artista é um homem que diz uma coisa difícil de uma maneira simples.

    Charles Bukowski

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