quinta-feira, 30 de junho de 2011

O “Paraguai” africano



O Paraguai africano ou

Líbia – uma guerra trágica com pretextos patéticos


O que os países que representam o império da atualidade, econômico-financeiro, estão fazendo à Líbia é o mesmo que foi feito no Paraguai, em circunstâncias e condições de outra época, mas essencialmente a mesma coisa.

O índice de pobreza é baixíssimo, o serviço público e gratuito é de qualidade. Não há revolta popular, na Líbia. O que há é o investimento numa oposição fraca e desorganizada, com treinamento, armas, instruções, contratação de homens, um trabalho de serviços secretos, fomentando a derrubada do regime líbio pra mudar sua posição política na direção de favorecer as grandes empresas do império, que já negociam por lá, mas sem as facilidades que gostariam e às quais estão mais que acostumadas, com os limites impostos pela política de Kaddafi. Ele sempre foi uma pedra no sapato dessas mega-empresas, antes atreladas aos Estados mais ricos, agora no comando. Só afrouxou um pouco quando viu o que os Estados Unidos fizeram com o Iraque. Até então, nem negociava com as petroleiras ocidentais, a não ser através da sua estatal. Aí permitiu a entrada delas em operação no território líbio, mas impondo regras e limites. Há pouco tempo, apresentou a proposta de criação de uma moeda única africana, desligada do dólar, na ONU. Alguns países africanos demonstraram interesse e quase aconteceu, teve que rolar movimentação rápida dos poderosos e suas formas de pressionar os Estados via econômica, política ou militar. Os banqueiros internacionais ficaram furiosos e resolveram derrubar Kaddafi, de qualquer maneira. Afinal, são eles quem financia o controle das maiores máquinas de guerra do planeta, sustentando governos em todas as suas instâncias e ditando as políticas dos Estados. A Líbia já era um péssimo exemplo, há muito tempo, e essa foi a gota d’água. As revoltas no mundo árabe, justamente devido à implantação da políticas de geração de lucro e miséria para empresas e povos, respectivamente, levantou a poeira e favoreceu o início do movimento armado, devidamente distorcido pelas mídias. A campanha dos "grandes meios de comunicação" prepara a opinião pública, com pretextos patéticos para uma “guerra humanitária” (absurda contradição, um paradoxo em si), os ataques aéreos, a destruição da infra-estrutura do país e o suporte aos "opositores", ignorando-se as cifras de mortes entre a população civil. Guerra humanitária! Hipocrisia sem limite, isso sim.

O Paraguai era o país mais independente da América Latina. Recusava os empréstimos oferecidos pelos banqueiros ingleses, apesar da insistência destes em “investimentos em infra-estrutura” que, na verdade, amarrariam o país em dívidas, como estavam amarrados todos os países constituídos na América Latina, menos o Paraguai. Este desenvolvia suas tecnologias dando bolsas de estudos a estudantes paraguaios para que fossem aprender as tecnologias européias em Londres, Paris, onde estivessem. Com isso formou seu parque industrial, garantiu independência econômica e evitou a intromissão nos assuntos do país. Por isso se juntaram Brasil, Uruguai e Argentina para destruir o Paraguai, orquestrados pela Inglaterra. Suas fábricas foram destruídas, os destroços atirados nos rios, 40% da população foi morta, mais de 90% dos homens, as mulheres foram estupradas, muitas raptadas pelos homens dos exércitos e trazidas na viagem de volta, como diversão. Os puteiros das cidades se encheram de paraguaias. O arquivo nacional paraguaio foi roubado e está até hoje no Brasil, sem prazo pra devolução – imagino o que não deve haver ali em revelações escandalosas sobre a própria guerra, suas motivações e conseqüências.

Bem, há diferenças brutais, é claro, a Líbia é um país do petróleo, o mundo é muito outro, mas há sempre a semelhança da necessidade de destruir o que não se submete, de apresentar massacres e destruições como necessidades, de conduzir a opinião pública, de alegar pretextos mentirosos para atingir objetivos escondidos. Duas nações pequenas e valentes, que não se curvaram às potências do momento e se tornam vítimas da ambição genocida dos poderosos do mundo.

Abaixo, trechos de um artigo que recebi ontem, só pra ilustrar.

“ONU Constatou em 2007, sob o governo de Kadafi:


1 - Maior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);
2 - Ensino gratuito até a Universidade;
3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago;
4 - Ao casar, o casal recebe até U$$50.000 para adquirir seus bens;
5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc...;
6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;
7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia), em fazendas produtoras de alimentos.;


Porque detonar a Líbia então?


1 -Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;
2 - Fazer com que todo mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;
3 - O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro. Atrelá-lo. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando das flutuações do dólar.


O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única, sem atrelamento ao dólar.
A OTAN comandada pelos EUA, já bombardearam as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e infra estrutura de água, esgoto, gás e luz estão sèriamente danificados;
As bombas usadas contem DU (Uranio depletado) tempo de vida 3 bilhões de anos (causa câncer e deformações genéticas);
Metade das crianças líbias está traumatizada psicológicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;
Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças sofrem com a falta de remédios e alimentos;
A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo as crianças são as mais atingidas;
Cerca de 150.000 pessoas por dia, estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida...
Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver: Água e comida.
De uma população de 6,5 milhões de pessoas.”

Os dados acima foram retirados de www.globalresearch.ca
Em http://titaferreira.multiply.com/market/item/1978/1978

"A libia dispõe de uma Holding de investimentos com valores superiores a 65 bilhões de dólares e estes investimentos estão diversificados em várias partes do mundo. Inclusive no Brasil, na obra de Jirau.
Nome da Holding: Libya Arab Africa Investiment Company (LAAICO)"

www.paklibya.com.pk/


Diversas Fontes:
http://rio-negocios.com/do-financial-times-ao-juventus/
http://www.araboo.com/dir/libya-holding-companies
http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=10168647&indice=760&canal=402

                                                                                                               Helio Pereira


A Grécia, o mundo e nós com isso



 
Temos à nossa frente um painel demonstrativo. A estrutura “social” está exposta. Um parlamento cercado pela população em fúria, contida pela polícia, pancadaria, gás lacrimogênio e bala de borracha. Enquanto o sistema de segurança é lançado sobre os cidadãos em geral pacatos, os que se dizem seus “representantes” votam um pacote de medidas legislativas retirando direitos e benefícios sociais, reduções em salários e aposentadorias, por imposição de entidades financeiras mundiais, em nome dos seu lucros. A subjugação de países pelo poder privado está entrando na Europa pela Grécia, o irmão pobre da família européia. Já se estende a outros. Portugal e Espanha estão na linha. Os direitos sociais conquistados pelos povos europeus são retirados com a chegada do neoliberalismo, o controle das empresas sobre os Estados. A população protesta, contida pelas forças de segurança, cada vez mais especializadas na contenção de massas.



“Stathis Kouvelakis, professor de economia política em Londres, sublinha o simbolismo das imagens de manifestações em frente ao parlamento que têm corrido o mundo. "É o sistema político contra o povo. Existe uma ruptura de legitimidade profunda", declarou o investigador ao diário francês Le Monde.” *

Os sinais estão aí. Compare-se uma delegacia de crimes contra o patrimônio com uma de homicídios. Em qualquer universidade, a área social é relegada a segundo plano, em beneficio das áreas tecnológicas, ligadas aos interesses empresariais. Os bairros ricos são atendidos, as comunidades pobres são esquecidas, a não ser aquelas exceções escolhidas para servirem como provas do esforço feito para solucionar os problemas, vitrine eleitoral e hipocrisia social. O ensino público é sabotado em todos os sentidos, a saúde pública é caos e barbárie, enquanto não faltam financiamentos para grandes empresas e dinheiro no tal “superávit primário”, na verdade dinheiro pra bancos internacionais, metade do orçamento da união, a pagar os juros de uma dívida que não acaba e carrega o nome de “dívida pública”, apesar do público não entender bem como, quando e onde se fez essa dívida toda, nem o que foi feito com o dinheiro. O patrimônio público, propositalmente mal administrado pra gerar pretexto, foi entregue a grandes empresas, cujo único objetivo é o lucro, apesar das juras publicitárias de amor e boa vontade. O patrimônio e o lucro valem mais do que a vida, estabeleceu-se uma hierarquia onde o valor da vida está atrelado ao valor das coisas, a vida da maioria das pessoas vale muito pouco ou nada, sempre dependendo das posses. Desumanizou-se a sociedade, a vida, os desejos, as visões de mundo. O medo é semeado às mãos cheias, as pessoas atiradas umas contra as outras, em competição permanente e infernal. Não há democracia além da fachada. A sociedade é controlada do escuro, dos bastidores, onde a mídia não vai, pois pertence aos próprios controladores. Os falsos jornalistas mentem, omitem, enganam, distorcem, fabricam uma realidade falsa e incompreensível, atirando culpa às vítimas e enaltecendo vampiros da sociedade e seus funcionários midiáticos, as “celebridades”. O diploma não faz o jornalista de verdade. E a mídia privada, gigante e dominante, emprega os jornalistas da mentira e do entretenimento narcótico, superficializante. Com raríssimas exceções.

Entorpecidos pelos narcóticos midiáticos, sustentamos o sistema que nos destrói a alma, desinstruídos, desinformados, acreditando em mentiras, enganados sem defesa. Construímos, mantemos e sustentamos as grandes empresas, que controlam o Estado e as políticas públicas em prejuízo da população, enquanto a mídia nos convence de que é isso mesmo, tudo muito natural, político não presta – embora não deixe de existir e atuar na administração da sociedade –, a vida é uma competição desenfreada, qualquer um pode ser um vencedor, com esforço, progresso precisa de destruição, felicidade é consumir, possuir e desfrutar, tudo em excesso, enriquecer é o objetivo da vida, a medida de valor é a riqueza, a ostentação, a arrogância. Sentimentos e emoções são monitorados pela tela, com quadros melodramáticos, novelas, programas de futricas e outras baixarias.

Quando deixarmos de acreditar nessas mentiras e em muitas outras, os elos das correntes que nos escravizam, que nos prendem a uma vida sem sentido, angustiante e frustrante, irão se rompendo, até que desapareçam. E nada, nenhum organismo de repressão ou controle, vai poder impedir o processo. Está em curso. Começa dentro, na alma de cada um, e vai transformando as visões, os comportamentos, os valores, os desejos, os objetivos de vida, as formas de relacionamento e posicionamento, de participação nas coletividades. Transformando os sentimentos, as ações e as reações. Um processo de contágio vibracional se propaga, se multiplica, ainda pouco a pouco, mas em ritmo crescente. Muitos trabalham neste sentido, denunciando pacificamente as mentiras, instruindo, conscientizando, pois somos nós quem constrói, quem mantém, quem sustenta todo esse sistema, alienados, induzidos, enganados, como o burro puxa a carroça tentando alcançar as cenouras na vara, que não alcançará até levar sua carga ao destino morro acima e, às vezes, nem assim.

Quando retirarmos nosso consentimento, deixarmos de perseguir as cenouras, nos recusarmos a competir e formos solidários, a estrutura desmorona.

                                                                                                                                   Eduardo Marinho

* Boletim Carta Maior, 30 de junho de 2011 http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17994&boletim_id=950&componente_id=15358)

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Estado não pode lavar as mãos diante de mortes anunciadas (mas lava, na cara de pau)

Publicado em 30.05.2011 - por CPT

A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) reputa como muito estranhas as afirmativas de representantes da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Pará, do Ibama e do Incra que disseram no dia 25 de maio desconhecer as ameaças de morte sofridas pelos trabalhadores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados a mando de madeireiros no dia 24, em Nova Ipixuna (PA). O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, chegou a afirmar que o casal não constava de nenhuma relação de ameaçados em conflitos agrários, elaborada pela Ouvidoria ou pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo.

A CPT, que desde 1985 presta um serviço à sociedade brasileira registrando e divulgando um relatório anual dos conflitos no campo e das violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras, com destaque para os assassinatos e ameaças de morte, desde 2001 registrou entre os ameaçados de morte o nome de José Claudio. Seu nome aparece nos relatórios de 2001, 2002 e 2009. E nos relatórios de 2004, 2005 e 2010 constam o nome dele e de sua esposa, Maria do Espírito Santo. Pela sua metodologia, a CPT registra a cada ano só as ocorrências de novas ameaças.

Também o nome de Adelino Ramos, assassinado no dia 27 de maio, em Vista Alegre do Abunã, Rondônia, constou da lista de ameaçados de 2008. Em 22 de julho de 2010, o senhor Adelino participou de audiência, em Manaus, com o Ouvidor Agrário Nacional, Dr. Gercino Filho, e a Comissão de Combate à Violência e Conflitos no Campo e denunciou as ameaças que vinha sofrendo constantemente, inclusive citando nomes dos responsáveis pelas ameaças.

No dia 29 de abril de 2010, a CPT entregou ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, os dados dos Conflitos e da Violência no Campo, compilados nos relatórios anuais divulgados pela pastoral desde 1985. Um dos documentos entregue foi a relação de Assassinatos e Julgamentos de 1985 a 2009. Até 2010, foram assassinadas 1580 pessoas, em 1186 ocorrências. Destas somente 91 foram a julgamento com a condenação de apenas 21 mandantes e 73 executores. Dos mandantes condenados somente Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Irmã Dorothy Stang, continua preso.

As mortes no campo podem se intitular de Crônicas de mortes anunciadas. De 2000 a 2011, a CPT tem registrado em seu banco de dados ameaças de morte no campo, contra 1.855 pessoas. De 207 pessoas há o registro de terem sofrido mais de uma ameaça. E destas, 42 foram assassinadas e outras 30 sofreram tentativas de assassinato. 102 pessoas, das 207, foram ou são lideranças e 27 religiosos ou agentes de pastoral.

O que se assiste em nosso país é uma contra-reforma agrária e é uma falácia o tal desmatamento zero. O poder do latifúndio, travestido hoje de agronegócio, impõe suas regras afrontando o direito dos posseiros, pequenos agricultores, comunidades quilombolas e indígenas e outras categorias camponesas. Também avança sobre reservas ambientais e reservas extrativistas. O apoio, incentivo e financiamento do Estado ao agronegócio, o fortalece para seguir adiante, acobertado pelo discurso do desenvolvimento econômico que nada mais é do que a negação dos direitos fundamentais da pessoa, do meio ambiente e da natureza. Isso ficou explícito durante a votação do novo Código Florestal que melhor poderia se denominar de Código do Desmatamento. Além de flexibilizar as leis, a repugnante atitude dos deputados ruralistas, que vaiaram o anúncio da morte do casal, vem reafirmar que o interesse do grupo está em garantir o avanço do capital sobre as florestas, pouco se importando com as diferentes formas de vida que elas sustentam e muito menos com a vida de quem as defende. A violência no campo é alimentada, sobretudo, pela impunidade, como se pode concluir dos números dos assassinatos e julgamentos. O poder judiciário, sempre ágil para atender os reclamos do agronegócio, mostra-se pouco ou nada interessado quando as vítimas são os trabalhadores e trabalhadoras do campo.

A morte é uma decorrência do modelo de exploração econômica que se implanta a ferro e fogo. Os que tentam se opor a este modelo devem ser cooptados por migalhas ou promessas, como ocorre em Belo Monte, silenciados ou eliminados.

A Coordenação Nacional da CPT vê que na Amazônia matar e desmatar andam juntos. Por isso exige uma ação forte e eficaz do governo, reconhecendo e titulando os territórios das populações e comunidades amazônidas, estabelecendo limites à ação das madeireiras e empresas do agronegócio em sua voracidade sobre os bens da natureza. Também exige do judiciário medidas concretas que ponham um fim à impunidade no campo.

Goiânia, 30 de maio de 2011.
A Coordenação Nacional da CPT

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.